A Primavera teve a gentileza de nos visitar há dois
meses, embora a sua visita mais se assemelhe àquela de pessoas incómodas e de
feitio inconstante que preferimos que nos tivessem evitado o desprazer da sua presença.
Depois de uns dias que se contam pelos dedos das mãos com sabor a Verão, eis
que somos assombrados por um desfilar de nuvens negras prontas a descarregar a
sua raiva (que é o mesmo que dizer chuva) e rajadas de vento de velocidade
semelhante à dos aceleras da ponte Vasco da Gama. Eu que confesso que tenho o
que se pode chamar de "humor sazonalmente influenciável", ultimamente
não tenho andado com muita vontade de dar o ar da minha graça. Como anseio que
chegue o Verão com os seus dias luminosos, longos e insuportavelmente abafados!
(Pausa para suspiros... Refiro-me evidentemente àqueles bolinhos de açúcar e
claras de ovo, até porque não sou muito dada a lamechices). Que saudades de não
ter de dizer bom dia, apenas boa tarde; de passar horas e horas deitada ao sol
com uma mão dentro da piscina e outra a afugentar abelhas (literalmente!); dos
frenéticos jogos de badminton, onde já era uma vitória acertar-se no volante
mais que duas vezes seguidas; de tardes preenchidas com diálogos absolutamente
desprovidos de qualquer lógica; do memorável acampamento "vá para fora ca
dentro"; dos passeios a pé até à vila; dos concertos noturnos privados,
seguidos por mergulhos a luz da lua; de noites passadas numa euforia
desmesurada como se não houvesse amanhã; dos festivais repletos de loucura e inconsciência
(é triste admitir mas por vezes chegámos a este estado), nos quais não era
preciso gastar dinheiro em comer porque a poeira que circulava no ar era tal
que nos enchia a barriguita, e onde as idas à casa de banho (AKA contentores)
eram intrépidas sagas capazes de esmorecer a paciência de qualquer um! Enfim,
tal é a minha tristeza que quase me sinto capaz de me sentar no sofá a ouvir o
cd dos Delfins enquanto desfaleço até a apatia total. Só não o faço, primeiro,
por respeito aos meus vizinhos que não tem culpa e eu não tenho o direito de os
sujeitar a tamanha tortura, e, segundo, porque também não estou assim tão desesperada
uma vez que se avizinha um Verão que promete ser inesquecível tendo em conta os
planos que já deambulam nesta mente diabolicamente calculista! Por isso, enquanto
há Verão, há esperança!
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